Traga pra cá tudo




Traga de volta aquilo que foi deixado no meio do caminho
Esqueça o que fizeram à você, esqueça todas as vezes que não lhe deram o que você tanto quis.
Eu te dou tudo o que você precisa.
Me beba.
Me coma.
Me leia.
Me decifre.
Me traduza!
Dance aos som que meus cabelos fazem na sua mão.
Abra minha boca e derrame teu mel.
Que eu abro tua boca e coloco minhas palavras sabor ameixa.
E quando eu estiver calada, saiba que só estou esperando
que você traga tudo aquilo deixado de lado:
O desejo da entrega, que te mostra tão simples como era.
Que te desenha como exatamente você é
Mais que isso
Mais que eles
Mas traga de volta teu desejo
Tome um café comigo
Que eu te conto meus segredos
Me leve para lugares que eu nunca conheci
E faça eu me sentir em casa
Não me use como um trofél empoerado como muitos fazem
Não peque com os mesmos pecados
Não se vá quando o Sol vier nos visitar
Nem chegue quando a Lua toca a ultima canção da noite
Se entregue
"Se renda como eu me rendi"
Mergulhe nisso como eu mergulhei
E não me deixe me afogar.
Não espere tanto pra isso.

Balão de vidro II



Acredito que sejam necessárias algumas coisas a mais para que eu o solte.
Símbolo de uma ignorância charmosa e uma inocência atraente: Meu balão.
É todo feito de um vidro que beira os tons ciano e amarelo.
Ciano é um azul esverdeado. Uma cor que se assemelha à cor do mar quando o sol nasce.
Vidro é um material frágil e geralmente transparente.
Redondo.
Uma circunferência perfeita e móvel, tendo em vista que ainda caem alguns pedaços.
Meu balão. Carregado por todos os lugares serve para armazenagem de registros sentimentais, bons ou ruins.
Sentimento é uma emoção que ganhou força.
É como se a alma tivesse ganhado forma.
Alma, segundo a teologia, é o centro sentimental do ser humano.
Diferente de espírito, alma é como se fosse uma central de emoções que ganharam força, e espírito é a parte mística do ser.
Porém, onde a alma ganhou forma de balão, pode se dizer que é leve. Sendo leve, o vento manuseia muito bem a direção do balão, não permitindo que eu escolha a direção e sentido.
Leve é uma característica do que não pesa.
Peso é o que acontece quando vidro trinca.
Isso não acontece com frequência, mas é tenso.
Isso se deve a despressurização do balão, que faz com que a pressão interna seja menor que a pressão externa.
O que quero dizer é, que para manter um balão de vidro alto é necessário que a pressão interna seja maior que a externa.
Pressão é uma força que empurra as paredes do balão para o alto e o mantém sobre minha cabeça.
Cabeça é a parte mais elevada do corpo; uma caixa óssea que guarda o cérebro, este por sua vez, guarda a parte racional do ser humano.
Sendo assim, presume-se que faltam apenas dez minutos para que os ponteiros unam-se na hora previamente marcada.
Faltam dez minutos, e só vou esperar porque não tenho nada pra fazer. Vou continuar a esperar as coisas necessárias para que eu o solte.

Devagar





Há muito tempo, posso até dizer que desde sempre, ela nunca se viu assim. E eu nunca a vi assim. Hoje, atrás daquele campo de flores azuis eu vi ela tirando sua armadura tão frágil. Hoje, atrás daqueles olhos que seguem o mesmo tom de seus cabelos, eu ví ela se segurando na insegurança de não ser a verdade.
Vieram gigantes de todos os lados e açoitaram minha pequena. Grandes gigantes, enormes gigantes. Lembranças de noites não terminadas. Noites que se perduraram por noites e dias. Vidas que entraram dentro de sua vida para trazer a morte. Um passado que ela não viveu batia na porta dela, e com uma chave no pescoço conseguiu muito bem abrir.
A pior dor, ela dizia, é aquela que você não sabe de onde vem, nem quando vem. O crédito da dúvida só feriu todo o corpo da minha cabelos de fogo.E por alguns segundos ela não se importou de ver seus vestidos antes brancos, molhados com o vermelho que deu lugar ao cinza. Ela por alguns longos segundos, ela não se importou com o que todos diziam: Fraca! Acha que tudo roda em volta de seus olhos!
Pobre garota sem casa, sem armadura, sem música, sem vida. Pobre ela que não queria mais ser quem era. Por outros grandes e longos minutos ela se sentou onde ela costumava se sentar todos dias, na chuva, no Sol, na neblina fria que aparece às 5:30 am. Lá estava ela. No topo do vale.
Foi nesse modo que eu vi ela se desmoronar em si. Toda beleza, todos os sorrisos, todos os ditados que ela inventou, todos os desenhos que ela me mostrou, as palavras que em várias noites ela escreveu, se desfizeram diante de seus pés. Pequenos pés pintados de branco e preto. Cansados pés, pintados de branco e preto.
Sem saber pra onde ir, segurando um Oceano nas mãos, que nessa altura do campeonato já escorria por entre os dedos. Ela se sentiu no meio da multidão de fantasmas que prenderam ela naquele dia.
Ela que tanto lutou por seus ideais, morreu pelo benefício da dúvida. Foi corroída noite e dia e noite por uma só dúvida. Cabelos de ébano quebraram aquele coração cor de seleta. Olhos grandes cegaram seus olhos de vinho. Lábios grandes calaram os lábios de vinho.
Não era quem eu queria que fosse. Não havia resistencia que eu pensei que houvesse. Não tinha mais nada alí, fora o corpo da menina que poderia ter me amado, com toda a sua alma.
E morta foi, por mais que um serial killer. Um jogador de palavras ao vento, conquistador caro. Que com palavras, plantou a semente da dúvida, que quanto mais secava a terra, mais deu frutos. Matou a Roza, que já não estava tão viva. Matou a Roza, que já não tinha cor.
Febre, tosse, asma. Onde está A.R.? Vozes chamavam ela por todos os lugares, e eu podia ver pés vermelhos correndo um asfalto laranjado. E no amarelo estava seu corpo na forma de uma suástica sem forma. E quando pensei que ele poderia vê-la, foi em outros braços que ele parou. Não tinha mais ninguém. Pena dela!
Nada por ela. Nada por ele. Dedos dormentes era tudo o que ela tinha. nada mais. 
Hoje, ela só quer se alcoolizar e dizer que tudo está bem. Hoje, ela só quer ser vermelha, e acabar com todos os contrastes. Nada mais importa. Nem velhos lugares, nem velhos hábitos fazem mais sua filosofia. Nada mais importa, é o que ela tanto dizia.
Ele nem se importava. Um sexo após à noite não importava. Nada mais. Tudo duplamente feito. Tudo grande. Era assim que ela via. Nada mais era igual à antes. Eu só queria voltar ao que era. E só não estar tão chapada pelo vício que eu tinha. BEM, eu estou escrevendo durante meu falso devaneio, esperando justificar algo que ainda não disse
Algo que faça sentido, algo que falte na parede, algo que me dê o horizonte. Se não for para ser, que não seja e tudo aconteça como for pra acontecer. Não quero ela para mim, mas a quero bem, sempre bem e fora do pote dele. Aquele pote pintado hálito de bebâdo, marron e fosco, com transparência confusa e alheia. Ele com olhos incrivelmente sedendos, olhos de tão marrons eram quase negros, negros que agora eram a luz do meu tunél. Da certeza das reticências me senti mastigada, docemente masgitada. Nesta lástima de viver, estava ele a cada dia vivendo sua pequena rotina, nada de sobreviver rastejando e comendo as migalhas que um sonhador ofereceu. Da neblina que embaça a janela dela por fora, eu pude escrever a verdade . . .

O velho Blue Jeans



Ela gostava de seu blue jeans. E gostava de quando ele ficava velho, se desfazendo toda vez que era estendido no varal. Era sim, ela gostava do seu blue jeans. O jeans azul, desbotado, com ar de muito antigo, com cara nova, algumas janelinhas que deixavam ver a sua pele cor azul. Blue, blues, azul. Jeans azul. O símbolo do comunismo, muito bem inserido no capitalismo.

Ela trabalha a semana toda e tira folga nas terças, pra escutar som. E sempre com seu BJ. Ela trabalha, canta, toca e namora com ele. Nada sem ele. Tudo com ele. Ele.

E não importa as combinações. Azul aqui deixa de ser uma cor fria pra ser uma cor neutra. Assim ela usa vermelho, azul, amarelo, roxo, preto, branco, com bolinhas, listras, xadrez, estampas de bichos e flores. DIVERSIFICADAMENTE.

E o jeans, de aparência tão grossa, grosseira e pesada, nela desenha os seus contornos levemente, como se deixasse de ser Blue Jeans e fosse apenas Blue seda. Seda. Ceda e sede. É interessante como ela brinca com as palavras da mesma forma que ela combina suas roupas, sempre acompanhadas por ele.

O BJ parece ter sido feito nela. Fica gracioso, belo, vívido, nos seus cento e sessenta e cinco centímetros de luz. Combina com o batom que ela usa, com o sutian que cobre seus seios, com sua cintura roliça, com seus pés número 35, com seu cabelo muito bem desalinhado.

Com pincéis azuis e tintas vermelhas, ela pintava quartos de cor púrpura. Era nisso que ela trabalhava. Pintava quartos. Fazia portas nas paredes que só poderiam ser abertas pela mente.
Sempre com seus BJ.

A coisa mais linda era ver ela tirando-o. A graça dava espaço para a sensualidade. A garota dava lugar para uma mulher. O blue jeans dava lugar para camisa. E tudo era assim, até que ela vestisse-o novamente, na manhã seguinte. Diga-se de passagem que ela gostava muito dessa parte.

Era um relacionamento duradouro o deles. Como ela dizia: Meu BJ, minha música, meu canivete e ninguém mais.


11/02/2010

DD/MM/AAAA




Hoje te procurei em velhos recados deixados escritos por muitos lugares. Hoje eu quis sentar em velhos lugares, em velhos horários, pra comer o velho chocolate te vendo passar por mim. E só hoje, me deu saudade do tempo em que ríamos dos filmes que nunca assistimos. Hoje, eu senti falta de seus meios sorrisos que apareciam entre conversas que não eram nossas. Hoje senti falta da vontade que tinha de ser o teu orgulho. Hoje, queria que você só me olhasse um pouco mais, mais que uma olhada desapercebida na rua, na chuva ou na fazenda. Hoje eu te procurei. Hoje eu te procurei como se eu buscasse achar o centro do meu alvo. Procurei dentro da bagunça que atende pelo meu nome, meu verdadeiro nome. Queria ouvir meu nome enquanto você me corrige. Enquanto você me desvenda aos poucos, como antes. Como Anne, como eu. Hoje eu procurei teu nome no meu caderno, na esperança de achar teu telefone, e quem sabe, conversar com você sobre o que gostamos. Poderíamos conversar sobre música, sobre pimenta, sobre bacon, ou só sobre nós mesmos. Algo assim, bem assim.
Mas hoje eu comecei a me perder quando tentava te achar, me perdi de tal forma, que quando assustei, estava imersa em palavras que chegarão nos teus olhos e ouvidos, com um outro sabor. Falei de ti hoje, e me arrependo disso. Hoje eu não lhe achei, nem em fotos eu achei, nem em devaneios lhe encontrei. E ao mesmo tempo, teus olhos estavam tão presentes. Como quem brinca com cores, como quem chora com dedos doloridos, como quem tem medo da chuva, ou quem bebe Pedra. Assim, só assim.
Hoje te quis, como nunca quis. Te quis pra conversar, pra trocar idéias, pra movimentar nossas cabeças. Não vou lhe dizer o que exatamente conversaríamos, porque não sei. Mas queria te levar à novos lugares, aos meus novos lugares favoritos e por que não aos velhos? Quero sempre assim, bem assim.
Hoje eu quis inventar desculpas pra falar com você, talvez lembrar de algo meu que ficou em você. Talvez lembrar de algo meu que ficou com você, e de coisas que você não deixou pra tras. Hoje eu quis sentir um pouquinho de frio na barriga. Barriga. Quis ouvir a banda que mais detesto e a música que mais me faz mal. Hoje queria ser só seu BlackBird, ser uma Little Wing, ser teu Tempo de Verão e tua Vermelha. Só tua. Hoje quis entender e ouvir o que você escreve. Quis te proteger do que você se enche e entender por que ainda fica vazio. Quis você pra tanto. Quis tanto você. Hoje quis brincar de desentendida, ser tua loucura. Hoje eu te vi, tropeçando em seus pés, numa estrada que você que escolheu partir. Hoje, foi um dia perfeito.

BORA BEBER!


Boa tarde leitores do VD! Esse post inútil ganha utilidade aqui: Obrigada.
Em nome de todas as Senhoritas Valentinas¹ (Géssyca e Laiane), eu, Donna Valentina¹ (Anne), venho agradecer as mais de 2000 visitas ao nosso blog. Como forma de agradecimento, busquei no meu registro, as perguntas que apareceram constantemente sobre o VD.




Há quanto tempo o blog existe?
O Blog mesmo tem uns 5 ou 6 meses. Antes era um fotolog.


Qual a diferença entre usar um fotolog e um blog?
Resolvi fazer um blog, porque ele é muito mais democrático. Comecei com o fotolog em 2007 e ouvia muitas pessoas dizendo que liam os textos, mas não comentavam por não ter fotolog. Depois de uma série de desativações e ativações, o blog foi definitivamente feito.


O fotolog ainda existe?
Sim e não. O fotolog original, o primeiro post como D. Valentina, foi no /valentine_day, que foi excluído, virando um livro com outros textos ainda não publicados, lido por apenas duas pessoas. Depois eu fiz outro, o /valentine_day2 (note a criatividade para nomes) que ainda existe.


Por que você excluiu o /valentine_day?
Houve uma série de problemas na época. Um contexto muito grande. Fui mudada de turma, logo no ano da minha formatura. Muito chateada com a situação, escrevi um pouco sobre minha nova turma, que não agradou muito a todos. Foram sete linhas de uma raiva muito bem expressada. Depois disso, imprimiram meu texto, levaram-o até a escola, escreveram no quadro e um grande barraco formou-se por uma crônica inocente. Depois disso, ví o quanto era exposto a minha vida, e por fim, decidi excluí-lo.


Qual o melhor texto que você já escreveu?
Ainda não sei. Gosto geralmente do que escrevo imediato. Por exemplo, no momento, estou extremamente apaixonada pelo Refletor 98331. Mas assim que postar esse que questionário formspringiano, eu vou amá-lo. Mas assim que posto outro, me desapaixono pelo anterior. No fim, acabou não gostando de nada que escrevo.


Onde você se inspirou pra fazer o #MusicMonday?
No twitter. Mas deixando claro, não era #musicmonday no ínicio. Era #musicsaturday.


Onde você se inspira pra escrever tanto?
Eu não me inspiro, eu vivo.


Como as meninas entraram no blog?
Bom, uma vez eu fui viajar para Caldas Novas e o blog ia ficar meio desatualizado. Para não deixar meus leitores na mão, resolvi convidar duas amigas para me ajudarem nisso. Laiane só foi postar meses depois (¬¬) e a Géssyca me encantou muito com o profissionalismo de suas palavras. Aí um convite informal, tornou-se uma convocação pra me ajudar no blog. Hoje, são Valentinas como eu.


"Como faço pra escrever no seu blog?"²
Nasce de novo, querida.


Já recebeu críticas ruins sobre o seu blog?
Claro, é normal. É chato, mas também é excitante ver que quem critica são pessoas que não conseguem fazer algo melhor.


O que você faz além de escrever no blog?
Sou professora de inglês, em duas escolas. Sou a Secretária do SuperNova, faço coberturas de eventos, edições e books fotográficos, posto uma coluna (ir)regular sobre música às terças em outro blog (Escutaí...). É isso.


Pretende manter o blog?
Talvez. Não sei. Sou viciada em mudança. Pode ser que você atualize sua página agora e o layout seja rosa com flores azuis e anjinhos coloridos (não). Sendo assim, não posso prever o futuro. Mas espero que o que eu escrevo seja lido e útil por outras pessoas.


Você conhece as outras meninas pessoalmente?
Sim, claro. Estudamos juntas há MUITO tempo atrás.


Além de vocês três, quem mais tem acesso ao blog?
Eu e meu lado masculino.


Por que tanto mistério nos textos?
Entenda que pra alguém, meus textos fazem total sentido.


Por enquanto é isso. Para presentear à todos os leitores, essa semana estaremos todas postando sobre um mesmo assunto: "Admirável mundo novo". Mandem perguntas novas e novamente OBRIGADA!


¹: Até que ficou legal :D.
²: Isso tem um destinatário específico.

Refletor 98331

Pegue dois espelhos, de mesmo tamanho e em mesmas posições. Que imagem reflete nesses espelhos?

O que há no fundo de dois espelhos? E o que existe no interior deles? Há imagem que não é imagem? É uma não-imagem ou a única imagem? Um baú. Uma caixa vermelha com função de preta.

Às vezes acho que vai quebrar tal imagem. Quando penso nisso, começo a sentir até uma pressão nos ouvidos, como estivesse vendo a cena.

Dois espelhos. Colocados em frente um do outro. Para Lewis Carroll, levava para um mundo de maravilhas, atraves do espelho. Talvez para ele, o espelho é só uma portinha no meio da casa. Só um passo em falso, e numa estrada preta-branca apareceria lá de bom grado. Mas meu coração fica em fúria como uma tempestade no meu Oceano, quando penso no que poderia aparecer nessa situação.

Tente, só tente. Umas poucas vezes tente. Espelho X Espelho.

Aí me lembro de sábias palavras. Vamos antes falar delas sem mostrar o que elas são. Palavras que pareciam tão precisas e tão sinceras. Outras vezes palavras tão misteriosas. Talvez, esse mistério aguçou meus sentidos, para aprender a degustar frutas por uma imagem. Será que a imagem do espelho frente à espelho supera os sentidos de tal forma que tem gosto, sabor e cheiro? Excelente. Assim fico cá pensando nisso, enquanto meus olhos quase podem ver a tal imagem. Então será que sou a imagem desse confronto refletor quando isso me acomete? São tantos mistério. Tantas coisas que ficam ainda cobertas pra quem já corre sem panos. "Quebrei meu espelho, e botei nele o meu coração".

Para sempre




Acho que a mistificação do "para sempre" foi desfeita quando houve a primeira morte. Será que as crianças dessa época tiveram alguma coisa "para sempre"? Não sei, mas não queria ser uma delas. Nada alí dava base para que ela soubesse que tudo é para sempre. E eu por esse ponto de vista, até que gostaria de ser ela só pra gozar desse momento breve, findado pela primeira morte.

Imagine você, mas volte bem no seu registro histórico. Imagine como foi a primeira morte. A primeira morte que o homem presenciou (claro de outro ser humano)... Imagine. Estranho, não é? No momento talvez, veio alguma coisa relativa àquelas grandes produções cinematógraficas, ou até mesmo a forma do homem com duas folhas cobrindo suas partes. Pois bem, seja lá como foi a primeira morte, ela foi. Com toda a crença nascendo naquele momento.

A morte é a raiz de todas as crenças. Acho que foi o primeiro raciocínio que o homem teve em relação à outro. Mas enfim, as crianças tendem à acreditar muito no "para sempre" de fim de história. E como foi para a primeira criança ver o "para sempre" dela, a "vírgula" que ela via na vida, as "reticências" de uma vida que não era tão fácil assim, se tornasse um ponto final, ou talvez, no caso de achar um dente-de-sabre, um ponto de exclamação? Triste, chocante ou engraçado? Sim, por que não engraçado? Talvez aí tivesse sido a morte da crença do "para sempre" e o nascimento do humor negro.

Para que as crianças continuassem a acreditar no "para sempre", talvez pra esquecer de quando a mãe a deixar, talvez pra ela não chorar com a perda do gato que ela cuidava, foi criado um novo paragráfo escrito em branco por mãos tão manchadas. Deuses, fadas, bruxas, duendes, elfos... e toda a parafernália que a chamamos de crenças e mitos foi criadas ali, junto às cinzas de outras crenças mais inocentes e menos elaboradas. A morte e a origem de uma mesma coisa. Como um vai-e-volta de demasiados arcos de fogo e fumaça. Todos na cabeça de uma pequena criança, que vê agora criado em cima do ponto final, um outro ponto, dando nascimento dos dois pontos (:) dando explicação à tudo o que havia atrás.

Acho que também deve ser por isso que nossas crianças não estão com a mesma crença, com tanta parte lúdica, com tanta percepção de arte. Porque logo cedo, explicam que morte é só um soninho, ou só "foi lá pra cima". A morte então passa a ser não muito fantasiada. É só "foi lá pra cima". Uma desculpa fácil e não criativa. Falasse então que o caixão é uma cápsula. E deixar que a criança imagine isso. Só um pouco. Só por um dia. Falasse então que as cores das rozas¹ tem um significado especial. Só fantasiar algo que um dia, será muito dolorido para ela.

Então é isso. Um "para sempre" que acaba, abre caminho para uma ilusão muito conveniente chegar. E entre devaneios e desacertos, vou escrevendo aqui, coisas que jamais deveriam sair da minha cabeça.

¹: Sei que rosas se escreve com "S".