Orquídeas, poesia, violão.



Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.


Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.


Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

Lenine

Nada em você

Acho engraçado ver você se enganando. Acho engraçado ver você fingindo ser o que não é. É curioso observar você e te ver tão só no meio de tantas pessoas, pelas quais você finge um falso-afeto. Gosto de rir quando me falam sobre sua incapacidade de ser você, essa foi a forma menos dramática que consegui pra ver teus castelos sendo arruinados por você. Lembro de bons dias que passávamos juntos. Éramos nós cartas de um só baralho. Mais que a família real, éramos o Espadilha e o Zap. Gostava de ver você sorrindo como quem nunca sorriu antes.
Acho engraçado que agora teu sorriso se resume em uma só fonte, e essa não parte de você. Gostava muito de sentir saudade sua e principalmente, destruir essa saudade, quando saíamos para nos divertir embaixo de luzes amarelas, sem dinheiro ou destino. Apenas nos divertíamos como que éramos.
Tua boca está seca. Secou tuas palavras e tuas idéias, desde o dia em que você se propôs a deixar que pensassem por você. Pouco a pouco, se perdendo no emaranhado que você criou. Qual sua cor hoje? Qual seu sabor? Você consegue me responder alguma coisa que saia somente da sua cabeça?
Não há tempo que mude. Não há atitude que reverta. Não tem pé e não tem cabeça! Não tem ninguém que mereça. Tua incredulidade em pequenas coisas. Tua cegueira ideológica. Teu não-saber sobre você mesmo não me excita a te ver. Não me propõe nada novo. Não me chama e nem me atrai.
Poderia até mistificar que foi um roubo, um seqüestro. Mas sei que seria mentira. Você viu a porta aberta e saiu, sem me mandar cartas. E eu jamais fecharia a porta para você, como têm feito agora né. As portas estavam sempre abertas para entradas e saídas de pessoas, contudo, estaríamos sempre do lado de dentro.
Hoje então, quero que saiba, que estou me desaliando a você. Apague nossos desenhos da parede, se eles ainda estiverem lá. Esqueça a minha voz e se possível, afogue-se no que você criou para você. Não há mais nada em você, nada novo. Nada seu. Nada que tenha nascido de você. Não há água em você, nem luz, nem fogo, nem vento, nem sabor, nem música, nem sentimento, que sejam oriundos de seu íntimo. Dobre a esquina e siga o que tem te guiado, Cabeça Tele-Guiada. Drogue-se na busca de descobrir o que te afasta de ti. Durma na esperança de saber o que você realmente é. E quando você acordar e ver que o Sol deitou e se levantou mais do que você se lembra, não me procure. O que era nosso você matou.
Pegue o vento e o tranque em um copo. O que você tem?

Olha as coisas como são

A chuva que molha o asfalto e o desgasta aos poucos. A torneira que continua pingando depois que você a fecha. A eletricidade que ainda corre nos fios depois que eles são desplugados da tomada. O vento que não tem origem e nem fim. O fogo que tem origem e fim.Olha como o negativo e o positivo virão reais com um íma. A vida que acaba quando começa (e ela começa todo dia). Três e Sete. Vinte e sete. Julho e Jotas. As flores, o verão que invade o inverno. O calor que te faz suar. O suor que te refresca. Os palhaços. Os nós do cadarço. O tempo batendo no relógio. O "só" andando de mão dadas com alguém. O cair e o levantar. Os filmes que travam. As músicas que param. A Sua e o Seu. Senhoras e senhores. A mentira e a razão. A emoção e a verdade. Olhe como a fechadura reflete o que tem no quarto. Olhe os espelhos. Olhe para alguma coisa.

Pegue esses olhos fundos e aprenda a enxergar.

Refletor 18992-0

Mr. Joe - Oi, tudo bem?
Ms. Blue - Tudo certo e com você? Há quanto tempo...
Mr. Joe - Tudo bem, na medida do possível. Realmente faz um tempo que não nos falamos. Me conte as novidades, como está sua vida?
Ms. Blue - Estou noiva. Me casarei em breve. Estou já preparando o vestido, o sapato e a decoração uma amiga minha vai fazer. A casa vai ficar pronta em poucos meses e em novembro do ano que vem começaremos a planejar nosso lindo bebê. E você?
Mr. Joe - Nossa... Bem, agora que você me falou isso, estou num êxtase negativo. Não sei como me sinto. Mas estou terminando meus estudos e em breve serei um professor de inglês bem sucedido. Quem é ele?
Ms. Blue - Ah, ele é um cara maravilhoso. Faz tudo pra mim, me trata super bem, é bonito e tem uma ótima estabilidade financeira...
Mr. Joe - Que bom. Fico feliz por você. Esses dias eu estava revirando uns papéis no meu guarda-roupa e encontrei um guardanapo seu.
Ms. Blue - Um guardanapo?
Mr. Joe - Sim. Você me deu naquele dia em que dividimos um cachorro quente. Lembra?
Ms. Blue - Me desculpe Mr. Joe, mas eu não me recordo disso.
Mr. Joe - Ah claro...  
Ms. Blue - O que houve?
Mr. Joe - Nada.
Ms. Blue - Na realidade. Me lembro. Lembro daquele dia como se fosse ontem ou hoje mesmo. Lembro do seu tênis colorido, da sua camiseta e do seu blue jeans. Seus olhos flamejavam naquele dia. Eu te disse que o mundo seria nosso né. Coisa da idade...
Mr. Joe - Deve ser. O que mais você se lembra?
Ms. Blue - Lembro do que escrevi no guardanapo e lembro de ter dado um beijo nele.
Mr. Joe - O cheiro do batom impregnou o papel.
Ms. Blue - Acredito.
Mr. Joe - E o que vai fazer depois do casamento?
Ms. Blue - Me dedicar ao homem da minha vida, ser fiel e uma ótima dona de casa. O que vai fazer depois da faculdade? O que vai fazer para o resto da sua vida?
Mr. Joe - Vou fazer o que estava escrito no seu guardanapo.
Ms. Blue - Quem me dera fazer o mesmo...
So, the call is end.
She changed everything, when she called back.
Mr. Joe - O que houve com a ligação?
Ms. Blue - Caiu. Eu acho.
Mr. Joe - Vamos então começar de novo. “Oi, tudo bem?”
Ms. Blue - Tudo certo, e com você? Há quanto tempo...
Mr. Joe - Estou bem, na medida do possível. Realmente tem um tempo que não nos vemos. Desde o começo do ano né...
Ms. Blue - Verdade. A ultima vez que nos vimos foi no dia 31. Eu me lembro.
Mr. Joe - Eu também. Estava chovendo.
Ms. Blue - Verdade. Um frio de lascar. Mas você é gordo e não sente tanto frio.
Mr. Joe - Isso não foi engraçado.
Ms. Blue - Não mesmo. Foi realista.
Mr. Joe - Mula.
Ms. Blue - Isso foi baixo.
Mr. Joe - Tanto quanto você.
Ms. Blue - Será que podemos conversar sem discutir?
Mr. Joe - Sim, sim.
Ms. Blue - Qual a importância de fazer o que está no guardanapo?
Mr. Joe - Toda. Hoje pra mim faz sentido. Pra você não?
Ms. Blue - Faz. Só não tenho mais forças.
Mr. Joe - Como assim?
Ms. Blue - Nada. Eu disse que um dia faria sentido.
Mr. Joe - Eu sei. E eu acreditei nisso. Engraçado que hoje realmente faz. E eu gosto disso.
Ms. Blue - Acredito. Como está sua família? O que ela acha sobre isso?
Mr. Joe - Minha família está bem em relação a isso...
Ms. Blue - Não me refiro à sua família achar sobre isso. Me refiro a ela. She’s so fine.
Mr. Joe - Não tão fine assim, pra falar a verdade. Anyway, ela não sei. Não estamos mais juntos.
Ms. Blue - Sério? Pensei que se casariam. Isso tem anos de amor.
Mr. Joe - Todos dizem isso. Mas acho que tempo não tem muito a ver com amor. Veja você, não nos vemos desde o começo do ano e você vai se casar. É pouco tempo pra isso.
Ms. Blue - Também acho. Vendo por esse ponto de vista.
Mr. Joe - O que aconteceu nesse tempo que não nos vimos?
Ms. Blue - Ah... Muita coisa. Eu saí de onde eu estava, morei com um desconhecido por um tempo, organizei uma mini Woodstock HAHA... Tenho vivido. No começo não foi fácil, mas as coisas melhoram. E você?
Mr. Joe - Pra falar a verdade eu me iludi por um bom tempo. Imaginando que amava uma garota que não amava, imaginando crer num Deus que eu não cria, querendo uma carreira que eu não queria. Você estava certa.
Ms. Blue - Quando?
Mr. Joe - Quando disse que eu não era mais eu. Verdade. Agora eu só quero ser eu.
Ms. Blue - Que bom. Fico feliz por você.
Mr. Joe - E você, é você ainda?
Ms. Blue - Acho que sim. Talvez não sou o eu que você conheceu ou que esteve acostumado a ver. Mas ainda sou eu.
Mr. Joe - E as músicas?
Ms. Blue - Ah, agora levo a música a sério. Escrevo para um blog sobre música e um jornal já quer comprar meus textos. Quero viver disso. Falar do que ouço, do que sinto. Acho muito bom.
Mr. Joe - Eu vi algumas coisas no seu blog.
Ms. Blue - Tipo?
Mr. Joe - Um texto que falava de Anna Flor...
Ms. Blue - Anna Rosa.
Mr. Joe - Isso. Essa moça. Você amadureceu.
Ms. Blue - É o processo. Verdade. Às vezes leio meu livro e fico vendo o quanto eu evolui na escrita, nas palavras. Acho que o melhor texto foi o Cassandra.
Mr. Joe - Não me refiro ao teor do texto, mas aos destinatários.
Ms. Blue - Talvez. Os meus textos ultimamente não tem destinatários.
Mr. Joe - Como ele é?
Ms. Blue - Exatamente como eu.
Mr. Joe - Deve ser legal.
Ms. Blue - É legal, mas as vezes por sermos assim tão iguais fica meio fácil de se prever o que vai acontecer.
Mr. Joe - Entendo.
Ms. Blue - Me fale sobre ela.
Mr. Joe - Ela? O que quer saber?
Ms. Blue - O que houve? Você a deixou?
Mr. Joe - Mais ou menos. Por um tempo eu me deixei por ela. Engraçado que você sempre esteve certa, eu sou muito novo. Eu que nunca tinha entendido. Mas foi assim: eu queria ser eu mesmo, mas estava preso a ela, que de uma forma ou outra me forçava a ser quem eu era, e não quem eu sou agora. Então expliquei a ela e ela me entendeu. Ela agora é professora de inglês.
Ms. Blue - Sério?
Mr. Joe - Sim, agora ela trabalha na Passado – Tradicionalismo em cursos.
Ms. Blue - Que bom. Já trabalhei lá.
Mr. Joe - Eu sei.
Ms. Blue - Sabe?
Mr. Joe - Eu lhe vi algumas vezes saindo de lá. A última vez que lhe vi lá, você estava com a camisa do The Doors.
Ms. Blue - Não lembro.
Mr. Joe - Anda ouvindo Doors?
Ms. Blue - Tenho um caso com Jim Morrison.
Mr. Joe - Ah claro, e Jimi Hendrix?
Ms. Blue - Eu o amo, incondicionalmente. Ele parece ser o único que me entende. Às vezes acho que ele escreveu Little wing pensando em mim.
Mr. Joe - Eu também. Você realmente é.
Ms. Blue - Como assim?
Mr. Joe - Uma vez você me falou que eu era. Mas observando bem, é como se eu até fosse, mas não era tão livre quanto deveria ser. Eu tinha as idéias boas, mas as atitudes erradas. O que me fazia ser nada. Você pelo contrario, tinha boas idéias e boas atitudes. Nunca parou em frente à um obstáculo.
Ms. Blue - Eu sempre paro em frente a obstáculos.
Mr. Joe - Mas você parar de frente à eles não te faz recuar. É lindo isso, sabia.
Ms. Blue - Que saudade.
Mr. Joe - De que?
Ms. Blue - De ouvir elogios.
Mr. Joe - Até parece que você não ouve.
Ms. Blue - Long story.
Mr. Joe - Você e suas longas histórias.
Ms. Blue - Eu sei. Eu gosto assim.
Mr. Joe - Você é besta hein...
Ms. Blue - Besta não. Acharam um nome melhor pra isso: VOLUNTARIOSA.
Mr. Joe - É vero.
Ms. Blue - Talvez seja.
Mr. Joe - Como foi a saída?
Ms. Blue - Foi bem simples e rápida. Sucinta e eficaz.
Mr. Joe - Você tem certeza disso?

Ms. Blue - Do que?
Mr. Joe - De sair?
Ms. Blue - Sim e não. Sim porque foi a melhor decisão a ser tomada no instante em que as coisas ferveram. E não porque não há como desfazer isso.
Mr. Joe - E isso é ruim?
Ms. Blue - Não muito. As coisas estão melhores como estão.
Mr. Joe - Estou lendo seu blog.
Ms. Blue - Merda.
Mr. Joe - O que?
Ms. Blue - Quantas vezes eu já te disse pra que se estiver lendo que não me falasse. Eu fico extremamente constrangida.
Mr. Joe - Você é muito fresca.
Ms. Blue - Não sou. Você deveria entender.
Mr. Joe - Talvez eu entenda, mas não quero dizer isso.
Ms. Blue - Você já disse, deveria ter dito isso antes.
Mr. Joe - Gosto de te ver assim.
Ms. Blue - Assim como?
Mr. Joe - Nervosa.
Ms. Blue - Ai ai.
Mr. Joe - Qual a cor do seu cabelo?
Ms. Blue - Agora, um vermelho meio preto meio roxo.
Mr. Joe - O que aconteceu com o vermelho?
Ms. Blue - Acabou a tinta.
Mr. Joe - Sério?
Ms. Blue - Não.
Mr. Joe - O que aconteceu?
Ms. Blue - Não me sentia mais bem com o vermelho.
Mr. Joe - Você me disse uma vez que as mulheres mudavam o cabelo quando alguém lhes partiam o coração. Ou alguma coisa parecida.
Ms. Blue - Verdade.
Mr. Joe - Alguém te partiu o coração?
Ms. Blue - Coisa parecida.
Mr. Joe - Por que você não conversa comigo sobre relacionamentos de uma forma direta?
Ms. Blue - Não sei. Não gosto, não me sinto segura.
Mr. Joe - Como assim?
Ms. Blue - Assim oras.
Mr. Joe - Pelo o que houve?
Ms. Blue - Em suma.
Mr. Joe - Me perdoe.
Ms. Blue - Claro.
Mr. Joe - Vai me falar agora?
Ms. Blue - Não.
Mr. Joe - Uai, então por que me perdoou?
Ms. Blue - Não gosto de guardar mágoas.
Mr. Joe - Mas por que não me fala?
Ms. Blue - Porque... fim.
Mr. Joe - ...?
Ms. Blue - Oras, fim.
Mr. Joe - Sim, mas fim?
Ms. Blue - Queria colocar um fim.
Mr. Joe - E colocou. E agora?
Ms. Blue - Agora vem o pós-fim.
Mr. Joe - De?
Ms. Blue - De nossa conversa.
Mr. Joe - Então eu continuo ou desligo?
Ms. Blue - O que acha melhor?
Mr. Joe - Continuar, tem tanto tempo que não nos falamos.
Ms. Blue - Então tá. E sua guitarra... como ela é?
Mr. Joe - Vermelha. Aliás, não um vermelho como de lápis de cor, um vermelho quase vinho.
Ms. Blue - Deve ser bonita.
Mr. Joe - É sim.
Ms. Blue - Tem tocado?
Mr. Joe - Um pouco.
Ms. Blue - Por que?
Mr. Joe - Tempo.
Ms. Blue - E você agora se preocupa com tempo?
Mr. Joe - Mais ou menos.
Ms. Blue - Você mudou.
Mr. Joe - Talvez sim, talvez não. Talvez quem tenha mudado foi você, por isso me ver diferente.
Ms. Blue - Você não mudou. Apenas amadureceu.
Mr. Joe - Também digo o mesmo de você.
Ms. Blue - Obrigada.
Mr. Joe - Não por isso.
Ms. Blue - À propósito, onde encontrou meu telefone?
Mr. Joe - Um beija-flor me disse.
Ms. Blue - Que brega.
Mr. Joe - O que?
Ms. Blue - Beija-flor...
Mr. Joe - Que nada.
Ms. Blue - Bobo.


To be continued.