you've got me in your pocket



São quase cinco e eu não consigo parar de olhar seus olhos castanhos. Gosto de ver seu cabelo liso, negro fazendo curvas sutis na nuca e suas costas flexionadas. Vem o sono e a dor de cabeça tentarem me alertar que já é hora de parar e eu nego seus caprichos, deixando o meu livre desejo dominar. E assim faço, enquanto você se desfaz em meus lençóis e se refaz em minha boca.

São quase cinco, acabou os cigarros e o café, mas não consigo parar de olhar teus lábios cor de goiaba. Gosto do gosto. Mistura o cigarro, o café, a língua. Mais úteis que algemas, me prenderam alma, corpo e coração em ti, desde a primeira vez que os toquei com os olhos. Vem o juízo e a razão tentar me alertar que é hora de pegar leve e eu nego seus pedidos, deixando minha cobiça me dominar. Eu bebo de tua boca como Alice, e me reduzo pra caber em teu seio.

Já são mais de cinco, e decidi passar a noite acordada pra te olhar se emoldurando em minha mente. Quero ver os poucos minutos que o Sol vem te abraçar na cama e beijar tua face. Quero ver tua pele vermelha brilhando à luz da estrela gorda. Quero ver de perto como quando deitamos com corpo colado. Vem o cansaço e ador nas costas alertarem que eu preciso parar de te olhar tanto, mas finjo que não ouço minhas costas e vou deixando o anseio me levar.

Já nem sei que horas são. Creio que seja a ultima hora antes do Sol acordar. Eu vou te olhando, e te vejo levantar. Com meus olhos vou seguindo seus passinhos tortuosos... Você levanta e volta, me pedindo pra deitar. Aí nego meu instinto e escolho ficar.

Carta ao medo


Pegue suas coisas, arrume suas malas. Hoje é o dia de dar adeus. Guarde na sua bolsa nossos velhos retratos, nossas velhas lembranças. Já não cabe mais um "nós", e fique bem com isso. Vamos, apresse-se em arrumar suas caixas!
Depois das palavras de hoje, eu quero que me solte de seus braços. Vá embora. Não preciso mais que me acorde no meio da noite, ou que me faça companhia como se fosse uma sombra minha. Leve teus livros, cartas, vinis, roupas de meu quarto. Já não há lugar pra você.
Vá em silêncio, por favor, sem escândalo, sem estardalhaço, sem versos ou prosas, sabe que não gosto. Em respeito ao longo tempo que ficamos juntos, por favor, vá em silêncio.
Não que eu me arrependa, ou que sinta muito, mas tente ser você em outro lugar. Meu peito já não é sua casa, não mais, não depois de muito tempo. Solte meus joelhos, não há volta para nós dois, não há um "capítulo dois". Leve sua inútil presença de minha vida.
Hoje eu já não preciso mais de você. Hoje eu já não quero te sentir. Hoje é dia de dar adeus à você, que tanto mal me fez e que hoje já não pode mais.
Adeus, medo. Adeus.