mulher de Peru



a vontade que a luz acabe, que o tempo pare e que o medo seja a última dose na garrafa não passa.
eu corro os dias tentando não pensar no que poderíamos ou não ser, nos breves minutos e que nossas agendas se cruzaram. fumo cigarro, mordo a ponta da caneta, compro chicletes e balinhas, mudo a alimentação e vejo meus dentes tornos. os lábios parecem ter formiguinhas vermelhas só de pensar em morder sua boca. viro cachoeira quando penso e me sinto criança quando fala comigo. 

despedida



descobrimos que o amor não é tempero suficiente para rotina.
também percebemos que o tempo faz esquecer e não curar.
aprendemos que para ter alguém ao lado é preciso ceder e lutar, diariamente.
vislumbramos, então, que não somos tão interessados nisso.
culpamos o próprio espelho e o ego alheio do final que chegou atrasado.
sorrimos sós muito mais do que os tediosos finais de semana no sofá.
redescobrimos gostos, sabores, perfumes e sons que a mesmice já tinha nos tomado.
entendemos que a saudade só existe com a ausência, mas que isso não dá corda para tudo.
ouvimos um ao outro em poucos dias mais do que nos prestamos a ouvir durante dias sem fim.
sentimos um falso amor mais forte e imbatível do que o verdadeiro que juramos um ao outro.
furamos o respeito, pulamos o orgulho, caímos em desespero, subimos em festa, ferimos um ao outro com ponta de agulhas.
choramos um pouco, descobrimos novas pessoas em nós, nos odiamos todo dia um pouco menos.
desatamos o nós, para ser você/eu.

adeus.